Volumen 31 Nº 4 (octubre-diciembre) 2022, pp. 65-83

ISSN 1315-0006. Depósito legal pp 199202zu44

Um estudo de caso de associadas iguaçuanas do RJ e os embates da Transformação Social Local1

Maria Anielly dos Santos*, Vanessa Costa de Oliveira**, Herlander Costa Alegre da Gama Afonso*** y Ariele da Silva Moreira Rodrigues Ferreira****

Resumo

O empreendedorismo feminino no artesanato doméstico pode ser compreendido como o envolvimento de mulheres que atuam como líderes e protagonizam seus negócios. Entender essa relação e suas problemáticas se faz importante para que esse empreendedorismo se fortaleça e gere resultados positivos. Diante deste cenário, este estudo analisa como o empreendedorismo feminino alinhado à Economia Solidária pode se desenvolver em uma localização periférica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, mediante a abordagem do Causation e Effectuation. Para tanto, foi realizada uma pesquisa com as artesãs congruentes à Economia Solidária na cidade de Nova Iguaçu. O estudo foi classificado como quali-quanti e finalidade exploratória, teve como instrumento de pesquisa composto por perguntas fechadas, compreendendo o perfil do empreendedor e as abordagens supracitadas. Para a análise dos dados, foi utilizada a Escala Likert com o objetivo de investigar os embates do movimento, dos atores envolvidos. Os resultados da pesquisa evidenciaram baixas lógicas causation e effectuation presentes na ação empreendedora, embora as artesãs destacassem fatores motivadores como a autonomia e habilidades manuais.

Palavras-chave: Empreendedorismo Feminino; negócios; Causation e Effectuation; artesãs; empreendedor.

1 A presente pesquisa foi realizada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil - (CAPES) e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ).

Centro Federal de Educação Tecnológica “Celso Suckow da Fonseca”. Nova Iguaçu/RJ, Brasil.

*ORCID: 0000-0002-3146-4225 E-mail: anielly044@gmail.com

Centro Federal de Educação Tecnológica “Celso Suckow da Fonseca”. Nova Iguaçu/RJ, Brasil.

**ORCID: 0000-0002-0943-3553. E-mail: vanessa.costarj@hotmail.com

Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca”. Nova Iguaçu/RJ, Brasil.

***ORCID: 0000-0002-8954-3508. E-mail: herc_afonso@yahoo.com.br

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Brasil.

****ORCID: 0000-0002-7295-9240. E-mail: ariele.rodriguesferreira@gmail.com

Recibido: 13/04/2022 Aceptado: 28/09/2022

A case study of Iguaçuan associates from RJ and the struggles of Local Social Transformation

Abstract

Female entrepreneurship in domestic crafts can be understood as the involvement of women who act as leaders and lead their businesses. Understanding this relationship and its problems is important for this entrepreneurship to be strengthened and generate positive results. Given this scenario, this study analyzes how female entrepreneurship aligned with the Solidarity Economy can develop in a peripheral location of the Metropolitan Region of Rio de Janeiro, through the Causation and Effectuation approach. Therefore, a survey was carried out with artisans congruent to the Solidarity Economy in the city of Nova Iguaçu. The study was classified as quali-quanti and exploratory purpose, had as a research instrument composed of closed questions, comprising the profile of the entrepreneur and the aforementioned approaches. For data analysis, the Likert Scale was used with the objective of investigating the movement’s clashes; of the actors involved. The research results showed low causality and effectuation logics present in the entrepreneurial action, although the artisans highlighted motivating factors such as autonomy and manual skills.

Keywords: Female Entrepreneurship; Business; Causation and Effectuation; artisans; entrepreneur.

Introdução

As definições de empreendedorismo não se designam em relações sociais percebidas entre os sexos: masculino ou feminino. A diferença é o modo de como o sexo feminino é disposto no mundo, na sociedade, e como os agentes sociais atuam na construção desse gênero, pois a liderança das empresas por muito tempo foi vista como papel constituído ao gênero majoritariamente masculino, visto que as mulheres eram designadas ao lar e aos filhos (Vale et al., 2011).

A pesquisa intitulada “Empreendedorismo no Brasil 2019: Um recorte de gênero” da Rede de Mulher Empreendedora – RME demonstrou que o perfil padrão das mulheres empreendedoras do Brasil aumentou para 39 anos, com curso superior concluído, casadas e com filhos, e que grande parte decide tornar-se empreendedora depois de serem mães (RME, 2019).

Quaisquer que sejam os motivos, o trabalho feminino é sentenciado pelos moralistas, que não acreditam que ele possa ser uma necessidade essencial. O aumento considerável das responsabilidades maternas, desde o fim do século XVIII, ofuscou progressivamente a imagem do pai. Sua importância e sua autoridade representadas no século XVII entram em declínio, pois, assumindo a liderança no seio do lar, a mãe se apoderou de muitas de suas funções (Badinter, 1985).

O campo de pesquisas sobre empreendedorismo está ampliado às perspectivas teóricas para compreender e impulsionar o comportamento empreendedor destacando-se duas abordagens de definição do empreendedorismo: causation (causação), baseada no planejamento e na análise, e effectuation (efetuação), que são as estratégias emergentes e não preditivas (Faia et al., 2014). Este estudo se mostra relevante porque busca compreender as habilidades empreendedoras, no que diz respeito a identificação e exploração de oportunidades, dentro do âmbito de empreendedorismo feminino, que tem um efeito potencial para a sociedade.

A complexidade do presente estudo consiste no objeto de pesquisa escolhido: as iniciativas empreendedoras congruentes à Economia Solidária (ES) por mulheres dedicadas a atividades artesanais. Isso porque as práticas artesanais trazem em sua gênese questões comumente tradicionais de gênero e social do trabalho, cuja análise crítica pode fazer com que o empreendedorismo feminino no artesanato seja uma contradição paradoxal de termos, neste caso, empreendedorismo feminino e atividade artesanal (De Figueiredo et al.,2015).

Dito isso, a questão de pesquisa que norteia o estudo é: Como o empreendedorismo feminino alinhado à ES pode desenvolver a região de Nova Iguaçu, mediante a abordagem do Causation e Effectuation ? O lócus da nossa investigação é o município de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, onde a produção artesanal vem sendo comercializada em empreendimentos locais. Por meio do estudo de caso, exploram-se as causas e consequências da ação das empreendedoras reunidas na Associação de Artesanato Unindo Forças no Campo e na Cidade de Nova Iguaçu (AAUFCCNI) e do Fórum Municipal de Economia Solidária (FMES), este criado em 2005.

O artigo está estruturado, inicialmente, com esta breve introdução. Na sequência, o referencial teórico; posteriormente são mencionados os procedimentos adotados para coleta e análise dos dados, bem como o tipo de pesquisa realizada, depois os resultados e discussões; e por fim, as considerações finais do estudo, seguidas das referências utilizadas para este estudo.

Referencial Teórico

1. Empreendedorismo Feminino

Na obra de Ulrich Beck (2010), trata da despadronização do trabalho assalariado. O autor relata superficialmente sobre a trajetória do homem e o trabalho assalariado desde o início da sociedade industrial, pelas décadas de 60, onde salário e profissão se converteram em eixo de conduta, da qual a primeira pergunta ao conhecer alguém naquela época era sobre a profissão; hobbies e religião ficavam em segundo plano. A profissão significava parâmetro de identificação do indivíduo como se fosse um sobrenome.

Esse autor também afirma que essa ligação intensa do trabalhador com a profissão como nos primórdios se perdeu, isso porque houve aumento na taxa de desemprego provocado pelo aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e o avanço tecnológico e com isso começou a ocorrer a fragilização do trabalho assalariado (Beck, 2010).

O empreendedorismo feminino é respaldado no envolvimento de mulheres na gestão de decisão e negócios. As empreendedoras independentes cujo objetivo é ter o controle do seu próprio negócio, contribuindo na redução da pobreza para o crescimento das receitas locais, além de aprimorarem o desenvolvimento econômico local (Hapsari e Soeditianingrum, 2018).

Estes autores (2018, Op.Cit.) destacam que as mulheres exercem um papel importante no progresso do ambiente social, formando uma sociedade evoluída e com mais educação. E por meio do empreendedorismo desenvolvem habilidades de impactos positivos como autonomia e renda. À luz dessas razões, apoiar e expandir o empreendedorismo feminino tornou-se fundamental não apenas para evidenciar tal iniciativa, mas, sobretudo como aposta para reduzir a pobreza nos países em desenvolvimento.

Em 2020, estimou-se que a crise sem precedente, causada pelo avanço da pandemia do coronavírus (COVID-19) ocasionou o aumento do desemprego, impulsionando pessoas que buscaram no empreendedorismo, uma alternativa de renda. Os indicadores da GEM realizados em 55 países, e que no Brasil teve o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), confirmaram uma trajetória de retomada do empreendedorismo inicial no país após a queda registrada entre 2016 e 2018. De acordo com o último levantamento, estima-se que existe um total de 53,4 milhões de brasileiros empreendedores (GEM, 2019).

A inovação como elemento facilitador, tem como objetivo desenvolver economicamente uma região por meio do empreendedorismo feminino, o crescimento e desenvolvimento econômico de vários países (Cuberes e Teigneier, 2016; Fetsch et al., 2015). Naturalmente, a integração de novas tecnologias desempenha papel crucial no desenvolvimento das atividades do negócio, pois visam o crescimento rápido (Cardoso, 2018).

As mulheres são atores importantes no processo de transformações históricas, socioeconômicas, científicas e culturais na dinâmica social desde os tempos remotos até a atualidade. Dessa forma, a associação entre o trabalho feminino e o artesanato pode ser interpretada como a consequência de uma mudança histórica abrangente, que decorre das alterações nas condições de produção a partir da consolidação do modo de produção capitalista em escala internacional. Para explorar essa questão, cujas implicações ajudam a compreender o status do artesanato na sociedade contemporânea e a participação feminina nesta atividade, convém esclarecer como o fenômeno da industrialização impactou as formas de produção, transformou as ferramentas artesanais da manufatura e alterou a organização do trabalho (De Figueiredo et al., 2015).

De acordo com estes autores (2015, Op.cit), a relação entre mulher e produção artesanal refere-se, portanto, ao baixo grau de sofisticação tecnológica da atividade, à associação entre o artesanato e os trabalhos domésticos atribuídos às mulheres e à ideologia de que a mulher seria portadora de maior habilidade para o desempenho de tarefas minuciosas. Nas primeiras décadas da industrialização, quando as atividades fabris eram em grande medida artesanais, a maior parte do proletariado era constituída por mulheres, resignadas a salários inferiores em razão das estruturas sociais de dominação masculina.

As políticas públicas voltadas para o empreendedorismo feminino no Brasil carecem de ações que visam a atenção especial voltada para a promoção da mulher empreendedora, nos moldes dos protocolos adotados em países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A elaboração de uma estrutura institucional (sendo ela vertical e horizontal de prestação de serviços) para ajudar as mulheres a alcançarem os seus objetivos empresariais e assim atingir efetivamente a geração de riquezas e equidade social. A estrutura vertical, o governo federal cria diretivas, junto a órgãos de fomento como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para viabilizar linhas de financiamentos especiais, campanhas pró-formalização de negócios, em níveis estaduais. Já a nível horizontal, a criação de núcleos de suportes ou apoios para capacitação profissional de empreendedores, por meios de secretarias municipais de desenvolvimento da mulher e pelo SEBRAE (Rodrigues et al., 2021).

Deste modo, a ES passa a ser um fundamento elementar em prol de estimular novas condições de trabalho como a autonomia e equidade, sem a necessidade de seguir as regras empresariais e sem o assalariamento capitalista. As associações e cooperativas possuem uma grande importância para a comercialização dos produtos artesanais, auxiliam os produtores a serem inseridos no mercado, além de capacitarem seus associados por meio de cursos disponibilizados por instituições parceiras e assistência técnica oriunda de organizações que realizam esse serviço (De Oliveira Santos e De Almeida Silva, 2018).

Essa prática de produção e consumo privilegia a autogestão, o cuidado com o meio ambiente e a responsabilidade com as gerações futuras. A ES vem crescendo no atendimento de demandas imediatas por trabalho e consumo dignos, não apenas para as pessoas marginalizadas sob a lógica do capital, mas também vem criando as bases de um novo sistema socioeconômico, capaz de integrar de forma beneficente toda a sociedade do Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES (2008).

2. Abordagem Causation e Effectuation

Os empreendedores possuem traços cognitivos e arranjos mentais que facilitam e influenciam sua tomada de decisão, isso pode explicar porque alguns indivíduos se destacam e reconhecem as oportunidades empreendedoras. Assim, os dois modos de tomada de decisão organizacional: Causation e Effectuation, os quais podem representar os extremos desses arranjos mentais (Maine et al., 2015).

A causation é definida como um processo de tomada de decisão que depende do uso de técnicas de análise e estimativa para explorar mercados existentes e latentes. Como tal, a causalidade se concentra no que deve ser feito dados os objetivos predeterminados e os meios possíveis, o que em sua essência implica um processo que se baseia na lógica da previsão. É evidenciado que para se chegar a uma decisão, o indivíduo conduz um processo de busca para identificar e analisar abordagens alternativas e escolhe aquela com o maior retorno esperado. Assim, um empreendedor usando a lógica causation começará com um determinado objetivo, se concentrará nos retornos esperados, enfatizará as análises competitivas, explorará o conhecimento pré-existente e tentará prever um futuro incerto (Sarasvathy, 2001).

A effectuation, conforme esta autora, é descrita como uma lógica de habilidades (know-how) empreendedora, um processo dinâmico e interativo de criação de novos artifícios no mundo. Os indivíduos empregam processos de effectuation quando buscam oportunidades empreendedoras, usando recursos à sua disposição de forma imediata e definida. Para ela, um empreendedor que usa essa lógica começa com um determinado conjunto de meios, concentra-se em perdas acessíveis, alianças estratégicas, explora contingências e busca controlar um futuro imprevisível. Essa dialética como modo de tomada de decisão, permite maior resiliência a choques externos e contratempos. Estudos2 têm mostrado que os empreendedores que seguem esse processo são mais propensos a se adaptar e alterar seus objetivos iniciais ou curso de ação com base nas novas informações ou nas contingências que surgem inesperadamente ao longo do tempo.

Pesquisas sobre dinâmica na tomada de decisão revelaram recentemente como ambas as lógicas são combinadas na tomada de decisão estratégica de um empreendimento, ao invés de uma lógica ser usada exclusivamente, e como a ênfase no uso dessas lógicas muda com o decorrer do tempo. A effectuation é mais dominante nas fases iniciais do desenvolvimento, enquanto a causation é mais dominante nos estágios posteriores (Fidelis et al., 2017).

Conforme mostrado no Quadro 1, a abordagem identifica causation e effectuation como duas lógicas de tomada de decisão fundamentalmente diferentes em ambientes de negócios. A abordagem de effectuation se distingue por focar mais no que o empreendedor realiza e como a situação em que ele opera, influencia seu pensamento e ação.

Quadro 1 - Lógica de Causation e Effectuation

Causalidade

Efetuação

Natureza das incógnitas

Aspectos previsíveis de um futuro incerto.

Aspectos controláveis de um futuro imprevisível.

Definição de mercado

Técnicas de análise e estimativa para explorar mercados existentes e latentes.

Síntese e imaginação para criar novos mercados que ainda não existem.

Orientação de meta

Identificação da alternativa ideal para atingir um determinado objetivo.

Aceitação que as metas surjam contingentemente sobre o tempo.

Relação com a incerteza

Situações incertas para a maior extensão possível.

Situações incertas na esperança de ser capaz de explorá-los.

Stakeholder

Relacionamentos orientados a metas com partes as interessadas selecionadas.

Relacionamentos orientados para os meios com as partes interessadas selecionadas.

Pesquisa de mercado

Análises competitivas pré-calculadas e detalhadas para investigar a necessidade ou interesse no produto ou serviço.

Métodos informais para investigar a necessidade de ou interesse no produto ou serviço.

Fonte: Sarasvathy (2001, 2008) e Sarasvathy e Dew (2005).

Apesar das diferenças conceituais entre causation e effectuation, os autores supracitados evidenciam que ambas as lógicas de tomada de decisão são partes integrantes do raciocínio humano e podem ocorrer simultaneamente, sobrepondo-se em situações adversas de ações. Além disso, os empreendedores podem utilizar essa conceituação em momentos diferentes, dependendo do que as circunstâncias e suas preferências individuais exigirem.

A análise do quadro abaixo obtém uma escala contendo 20 itens a fim de avaliar as personalidades empreendedoras, em que a teoria causation apresentou melhor adequação unidimensional e a teoria effectuation apresentou melhor adequação multidimensional, composta pelas dimensões experimentação, perdas aceitáveis, flexibilidade e pré-acordos. Não é viável estabelecer uma abordagem como a melhor, porém, sem a habilidade cognitiva, que auxilia nas relações entre meios e fins, a exploração de oportunidades pode falhar (Faia et al.,2014). No quadro 2, a seguir, mostra-se a escala dessas abordagens empreendedoras.

Quadro 2 – Escala das Abordagens Causation e Effectuation

Dimensões

Itens

Causation

1-Analisei as oportunidades a longo prazo e selecionei aquelas sobre que pensei oferecer o melhor retorno.

2-Desenvolvi uma estratégia para melhor tirar vantagem dos recursos e capacidades disponíveis.

3- Desenvolvi e planejei um plano de negócios.

4-Organizei e implementei processos de controle para me certificar sobre o cumprimento dos objetivos pré-estabelecidos.

5-Pesquisei e selecionei os mercados alvo e fiz uma análise competitiva significativa.

6-Tive uma visão clara e consistente sobre aonde eu gostaria de chegar.

7-Desenvolvi um plano de produção e de ações de marketing.

Experimentação

8-Experimentei produtos diferentes e modelos de negócio diferentes.

9-O produto/serviço oferecido agora é essencialmente o mesmo daquele originalmente conceituado.

10-O produto/serviço oferecido agora é substancialmente diferente daquele imaginado primeiro.

11-Tentei uma série de métodos diferentes até encontrar um modelo de negócio que funcionasse.

Perdas aceitáveis

12 Fui cuidadoso para não comprometer recursos além do que eu dispunha a perder.

13 Fui cuidadoso para não arriscar mais dinheiro além do que eu estava propenso a perder com a ideia inicial.

14-Fui cuidadoso para não arriscar tanto dinheiro a ponto de colocar a empresa em problemas financeiros caso as coisas não dessem certo.

Flexibilidade

15- Permiti ao negócio desenvolver oportunidades emergentes (novas) além do que estava planejado.

16-Adaptei o que iríamos fazer aos recursos que eu tinha disponíveis.

17-Fui flexível e tirei vantagens das oportunidades enquanto elas surgiam.

18-Evitei ações que restringiam a flexibilidade e a adaptabilidade do negócio.

Pré-acordos

19-Usei um número substancial de acordos com clientes, fornecedores e outras organizações e pessoas para reduzir o tamanho da incerteza.

20-Usei pré-acordos para clientes e fornecedores sempre que foi possível.

Fonte: Faia, Rosa, Machado (2014, p. 204).

A adesão de cada etapa e os resultados obtidos no estudo dependerá de uma realidade distinta e particular (Harms e Schiele, 2012). De acordo com Fisher (2012), as abordagens não são excludentes, podendo ser combinadas para um maior sucesso na construção e manutenção de novos empreendimentos.

No tópico seguinte são apresentados os instrumentos e métodos que foram utilizados com vista ao alcance do objetivo proposto nesta pesquisa, bem como a análise necessária e razões pelas quais impactam na escolha do método.

Metodologia

A pesquisa é classificada como exploratória, uma vez que procura entender a realidade estudada por meio de um estudo de caso, além de identificar fatores de contribuições no incentivo dos fenômenos, explicando a razão pela qual se dá uma ocorrência social ou natural. No campo social, a complexidade aumenta a partir da temporalidade do fenômeno. Também é importante situar o ambiente social de ocorrência. Portanto, a realidade tempo-espaço é fundamental na identificação de causation e effectuation do evento social (Gil, 2008). A abordagem da pesquisa é entendida como qualitativa e quantitativa, uma vez que aquela responde às questões muito particulares, ou seja, considera-se o universo dos significados; enquanto esta está pautada na objetividade, realizada por instrumentos padronizados (Minayo, 2021).

O universo analisado compreendeu 15 participantes na reunião da associação, pertencentes ao grupo de ES dentro do município de Nova Iguaçu, que conforme a presidente do FMES totalizam-se 128 produtores, sendo 85 artesãos da Associação de Artesanato e 43 do Fórum de ES. Os dados foram coletados por meio de um questionário como a técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, entre outros (Gil, 2008).

No questionário virtual (on-line) constaram perguntas fechadas, cujas respostas foram tratadas por meio do programa Microsoft Excel®. Vale ressaltar que todos os levantamentos dos dados foram entre os meses de novembro e dezembro de 2021. Para a análise dos dados, aderiu-se a técnica da Escala Likert composta por cinco alternativas de múltipla escolha com o objetivo de mensurar o nível de concordância e discordância dos atores sob a ótica da abordagem causation e effectuation.

A cada item de resposta do Quadro 2 é atribuído um número que representa a direção do perfil dos respondentes em relação a cada afirmação. A pontuação total da atitude de cada respondente é dada pela somatória das pontuações obtidas para cada afirmação. A cada item foi atribuída uma frequência relativa e uma absoluta, sendo ambas positivas e com amplitude máxima de 60%.

Estudo de Caso

O artesanato doméstico em Nova Iguaçu pode ser reconhecido como elemento cultural, pois estimula a economia local e gera fonte de renda para muitas famílias. O Programa Municipal de Artesanato (PMA) da prefeitura da cidade reúne artesãos com atividades em feiras de artesanato coordenadas pela Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu (FENIG). Em 2017, o PMA contabilizou 277 artesãos cadastrados. E em 2020, foram elencados mais de 450 artesãos, munícipes da Prefeitura de Nova Iguaçu – PNI (2020).

A FENIG organiza e promove a participação das artesãs em feiras, eventos, capacitação, assegurando descontos de até 30% em lojas parceiras nas compras de matérias-primas e equipamentos para confecção de seus produtos. Também são oferecidos aos artesãos cadastrados cursos e oficinas de capacitação e aperfeiçoamento de suas técnicas de trabalho e venda. Todos os anos, são realizados grandes eventos estaduais e nacionais, como a Rio Artes Manuais e a Mega Artesanal, que acontecem em São Paulo com o propósito de ampliar as competências técnicas inovadoras, além de contribuir para a dinâmica do processo econômico do município (PNI, 2020).

Resultados e Discussões

Os grupos investigados foram a Associação de Artesanato Unindo Forças no Campo e na Cidade de Nova Iguaçu (AAUFCCNI) composto por 85 membros e o Fórum Municipal de Economia Solidária (FMES), composto por 43 membros, totalizando 128 membros. Vale destacar que, a pesquisa representa opiniões de 15 membros, sendo 10 vinculados à associação e o fórum, 2 somente da associação, 1 somente no fórum e 2 não são vinculados a qualquer um dos dois. Este questionário foi aplicado em oito de dezembro de ٢٠٢١.

A primeira seção do questionário, foi perguntado sobre a identidade dos artesãos para a averiguação do perfil sociodemográfico do empreendedor. Em relação à faixa etária, 9 respondentes possuem mais de 60 anos, 5 possuem anos e 1 possui 25 a 39 anos. Em relação ao gênero dos atores pesquisados, 14 são do gênero feminino e 1 do gênero masculino. No contexto histórico, Junior e Carvalho (2021) indagam a participação da mulher na manutenção de atividades têxteis. Ademais, por esses dados, consegue-se elucidar a relevância do trabalho artesanal para mulheres na atualidade, o que reforça o cenário atual das artesãs da associação, por considerarem a historicidade dessas atividades.

Em convergência com os dados supracitados, Silva (2014) entende que essa atividade já foi, inclusive, incentivada pela igreja, pois se constituía numa forma pedagógica de aprendizagem dos “papéis femininos”, inclusive muitas escolas formais tinham o aprendizado em artesanato como parte de seu currículo. O domínio dos chamados “trabalhos manuais” era fundamental para o exercício da feminilidade. Têm-se assim, muitas gerações de mulheres formadas nessa perspectiva. Nesse contexto, o artesanato tem se sustentado durante séculos e perdura até hoje. Essa atividade, em muitos casos, é tratada como invisível e desvalorizada porque se compreende que falar de artesanato é, de certa forma, falar das mulheres. Sobre o nível de escolaridade dos entrevistados: 2 possuem ensino fundamental, 12 possuem ensino médio e 1 possui graduação.

Quanto à renda familiar, 10 afirmaram receber até um salário mínimo (o salário mínimo vigente é: R$1.192,40), 4 responderam ganhar mais de um salário a dois salários mínimos e 1 mais de dois a três salários mínimos. Quando perguntado sobre a renda obtida com o artesanato, os dados foram os seguintes: 14 recebem até um salário mínimo e 1 entre um e dois salários.

A segunda seção deste tópico versa sobre o artesanato e empreendedorismo feminino em prol de investigar sobre as limitações e potencialidades dentro do grupo de ES. Assim, foi perguntado sobre a função exercida pelos membros em que, 13 são produtores, 1 tesoureira e 1 executiva. Importante destacar as particularidades do grupo, em que alguns membros da associação também são filiados ao Fórum e vice-versa. Além disso, os respondentes abordam a variedade na produção artesanal, entre eles: a confecção de mochilas, confecção de vestuário, vestuário pet e produção de alimentos.

Sobre a experiência adquirida com as atividades artesanais, os respondentes afirmaram o seguinte: 14 têm mais de cinco anos e 1 menos de um ano; sendo em Nova Iguaçu, 7 têm mais de cinco anos, 4 menos de um ano, 3 entre um a três anos e 1 entre três a cinco anos. Esses dados evidenciam que esses atores locais têm, majoritariamente, mais de cinco anos em atividades manuais.

Para averiguar a questão legal, foi perguntado sobre o cadastro Microempreendedor Individual (MEI). Na oportunidade, 11 dos entrevistados relataram possuir cadastro no MEI e 4 disseram não dispor do mesmo. Sobre a licença para exercer a função de produtor artesanal, 10 disseram possuir a carteirinha de artesã no município enquanto 5 falaram não possuir. Nesse contexto, De Oliveira Silva e De Almeida Santos (2018) reforçam que o artesanato é uma forma de atividade informal que se expressa de acordo com a cultura e a criatividade do produtor e talento de cada indivíduo considerando as tendências do mercado.

Nessa parte do questionário a seguir, optou-se utilizar cinco alternativas da Escala Likert a fim de auferir melhor a congruência da mensuração dos dados. Para a análise desses dados, as alternativas contiveram cinco níveis, sendo: 1-discordo totalmente, 2-discordo, 3-indiferente, 4-concordo e 5- concordo totalmente.

Quando questionado sobre o aumento de pessoas buscando no artesanato uma fonte de renda, 7 dos participantes concordaram totalmente, 5 concordaram, 1 foi indiferente, 1 discordou e 1 discordou totalmente. No tocante ao papel das associações e cooperativas, foi questionado sobre a sua importância para a comercialização dos produtos artesanais em que 7 concordaram totalmente e 8 concordaram.

Nesse panorama, a cooperativa é um mecanismo organizacional que pode perseguir os mais diversos fins, desde a busca do interesse econômico puro e inserido na economia de mercado até formas econômicas alternativas baseadas nos valores pautados no cooperativismo e na solidariedade. A cooperativa é, então, um meio para que um grupo de indivíduos atinja objetivos próprios, por meio de um acordo voluntário para a solidariedade mútua, incluindo o apoio familiar e comunitário (Sereno e Keller, 2017).

Na sequência foi indagado aos artesãos, se os mesmos se qualificam para melhorar seu negócio contendo os seguintes resultados: 7 concordaram, 5 concordaram totalmente e 3 discordaram. Para compreender melhor acerca do artesanato, foi perguntado sobre este sendo parte essencial da cultura de uma comunidade, 8 concordaram totalmente e 7 concordaram.

Neste contexto, Junior e Carvalho (2021) ressaltam que as mulheres em áreas que requerem menor escolaridade, são atribuídos trabalhos intensivos como tarefas rotineiras e manuais, esses também são designados aos desempregados e aos excluídos. De Muck (2019) reforça que as habilidades artesanais e as práticas são convencionalmente combinadas em uma narrativa sobre desqualificação, mas que embora isso tenha sido constantemente atribuído a fatores econômicos e tecnológicos, o cenário é mais complexo atualmente.

No contexto de ES e seus desdobramentos, foi questionado sobre a ES como a geração de novas formas de emprego, sem a necessidade de regras formais, em que 10 concordaram, 4 concordaram totalmente e 1 discordou. No último item dessa seção foi abordada a correlação da sociedade e o poder público na geração de renda por meio da ES, em que 6 concordaram, 4 discordaram, 2 concordaram totalmente, 2 foram indiferentes e 1 discordou totalmente.

Diante desses dados sobre a informalidade, há de se destacar que em muitos dos casos, o trabalho manual é realizado dentro do próprio domicílio, sendo esta uma das características da informalidade do setor artesanal. A dissociação do local de trabalho é uma das características do trabalho informal geral. Nesse sentido, apresenta-se a inserção de artesãs em entidades de ES como uma maneira de invalidar essas problemáticas e de empoderar tal trabalho (Junior e Carvalho, 2021).

Na terceira seção da pesquisa, a análise passa a ser dentro da abordagem causation e effectuation que possui cinco dimensões. Na primeira dimensão, que é a Causation, foram investigados sete itens apresentados no quadro 2. Percebe-se que grande parte dos respondentes se mostrou mais prudentes quanto à estratégia desenvolvida para melhor obtenção dos recursos disponíveis, apesar da maior discordância em organização de processos e controle. Também percebe-se que os respondentes não parecem analisar os mercados alvos e a competitividade.

Na perspectiva de Faia, Rosa e Machado (2014) as semelhanças e comparações precisam ser elaboradas para melhor compreensão do novo produto e desempenham um papel crucial na forma como os indivíduos compreendem a inovação, aprendem novos conceitos e desenvolvem novas categorias, conforme demonstrado no quadro 3, onde a descrição dos itens já foi apresentada no quadro 2.

Quadro 3 – Dados levantados da dimensão Causation

Dimensão Causation

Itens

Discordo totalmente

Discordo

Indiferente

Concordo

Concordo totalmente

Analisei as oportunidades a longo prazo e selecionei aquelas sobre que pensei oferecer o melhor retorno.

0

3

3

6

3

Desenvolvi uma estratégia para melhor tirar vantagem dos recursos e capacidades disponíveis.

1

2

2

9

1

Desenvolvi e planejei um plano de negócios.

2

5

3

4

1

Organizei e implementei processos de controle para me certificar sobre o cumprimento dos objetivos pré-estabelecidos.

2

7

0

5

1

Pesquisei e selecionei os mercados alvo e fiz uma análise competitiva significativa.

0

7

1

3

4

Tive uma visão clara e consistente sobre aonde eu gostaria de chegar.

2

4

0

4

5

Desenvolvi um plano de produção e de ações de marketing.

4

3

1

3

4

Frequência Relativa

11

31

10

34

19

Frequência Absoluta

12,75%

35,94%

11,59%

39,41%

0,31%

Fonte: Pesquisa de Campo, 2021.

Na segunda dimensão, que é a Experimentação, foram investigados 4 itens, também já apresentados no quadro 2. Em relação ao primeiro item, foi verificado que os respondentes experimentaram produtos diferentes conforme (resultado likert), ou seja, o produto oferecido não é essencialmente o mesmo daquele originalmente disponibilizado.

Em concordância com essa visão, De Oliveira Silva e De Almeida Santos (2018) apontam que a área produtiva artesanal é bem variada, dispõe de materiais e técnicas diversas. Sob tal ótica do reconhecimento de oportunidade, Sarasvathy e Dew (2005) depreendem que o conhecimento prévio influencia na busca de oportunidade, de como os empreendedores podem reconhecer de forma eficiente, novas oportunidades em estruturas organizacionais, para tal, foram descritos os resultados no quadro 4, a seguir.

Quadro 4 – Dados levantados da dimensão Experimentação

Dimensão Experimentação

Itens

Discordo totalmente

Discordo

Indiferente

Concordo

Concordo totalmente

Experimente os produtos diferentes e modelos de negócio diferentes.

4

2

1

5

3

O produto/serviço oferecido agora é essencialmente o mesmo daquele originalmente conceituado.

2

7

1

2

3

O produto/serviço oferecido agora é substancialmente diferente daquele imaginado primeiro.

2

5

1

6

1

Tentei uma série de métodos diferentes até encontrar um modelo de negócio que funcionasse.

3

4

0

6

0

Frequência Relativa

11

18

3

19

7

Frequência Absoluta

18,97%

31,03%

5,17%

32,76%

12,07%

Fonte: Pesquisa de Campo, 2021.

Na terceira dimensão, Perdas Aceitáveis contém 3 itens, mencionados no quadro 2. Foi possível notar que grande parte dos respondentes afirmaram serem cuidadosos em não arriscarem para não comprometerem os recursos.

Os empreendedores eficazes partem de uma autorreflexão sobre quem eles são, sobre quais conhecimentos possuem e sobre quem eles conhecem. Com isso, a ação é resultante dos recursos disponíveis, dos quais o empreendedor deduz o que pode fazer, bem como da interação com as pessoas envolvidas no processo. A interação é resultante de negociações que visam estabelecer acordos que permitam acessos a novos meios e combinações. Assim, as oportunidades serão criadas a partir de um processo que se transforma continuamente, sendo centrado na ação dos atores sobre o meio segundo Sarasvathy e Dew (2005), o que pode ser evidenciado por meio das respostas no quadro 5, a seguir.

Quadro 5 – Dados levantados da dimensão Perdas Aceitáveis

Dimensão Perdas Aceitáveis

Itens

Discordo totalmente

Discordo

Indiferente

Concordo

Concordo totalmente

Fui cuidadoso para não comprometer recursos além do que eu dispunha a perder.

1

2

0

9

3

Fui cuidadoso para não arriscar mais dinheiro além do que eu estava propenso a perder com a ideia inicial.

2

2

0

9

2

Fui cuidadoso para não arriscar tanto dinheiro a ponto de colocar a empresa em problemas financeiros caso as coisas não dessem certo.

3

2

0

7

3

Frequência Relativa

6

6

0

25

8

Frequência Absoluta

13,33%

13,33%

0,00%

55,56%

17,78%

Fonte: Pesquisa de Campo, 2021.

Na quarta dimensão, que é a Flexibilidade, são dispostos 4 itens, mencionados no quadro 2. De forma geral, os respondentes informaram serem mais flexíveis em ambientes revalidados por Sarasvathy e Dew (2005) nos quais os processos de criação de oportunidades permanecem flexíveis, ou seja, permitindo ao empreendedor usufruir das contingências ambientais à medida que elas surgem e aprender à medida que avançam. Nesse sentido, Marquesan e Figueiredo (2014) reafirmam que o trabalho artesanal passa a ser valorizado como um modo de produção alternativo, cuja retomada devolveria ao trabalhador a habilidade, o domínio de todo o processo produtivo e a criação de bens de qualidade, conforme apresentado no quadro 6, a seguir.

Quadro 6 – Dados levantados da dimensão Flexibilidade

Dimensão Flexibilidade

Itens

Discordo totalmente

Discordo

Indiferente

Concordo

Concordo totalmente

Permiti ao negócio desenvolver oportunidades emergentes (novas) além do que estava planejado.

0

5

1

8

1

Adaptei o que iríamos fazer aos recursos que eu tinha disponíveis.

1

0

1

9

4

Fui flexível e tirei vantagens das oportunidades enquanto elas surgiam.

0

0

1

10

4

Evitei ações que restringiam a flexibilidade e a adaptabilidade do negócio.

2

3

1

7

2

Frequência Relativa

3

8

4

34

11

Frequência Absoluta

5,00%

13,33%

6,67%

56,67%

18,33%

Fonte: Pesquisa de Campo, 2021.

Na quinta e última dimensão, que é Pré-acordos, os dois elementos foram investigados, conforme quadro 2. De forma geral, os respondentes se mantiveram divididos quando questionados sobre pré-acordos com clientes e fornecedores. Dessa forma, Sarasvathy e Dew (2005) entendem que as oportunidades são criadas a partir de um processo que envolve uma interação e uma negociação intensa entre stakeholders. Essa evidenciação, conforme Marquesan e Figueiredo (2014), sugere que, no escopo institucional, a familiaridade e a previsibilidade são traços desejáveis à produção artesanal devido à crença de que assegurariam a continuidade da cultura, de maneira que foi possível observar que as respostas foram distribuídas de forma similar, conforme o quadro 7.

Quadro 7 Dados da dimensão Pré-acordos

Dimensão Pré-Acordos

Itens

Discordo totalmente

Discordo

Indiferente

Concordo

Concordo totalmente

Usei um número substancial de acordos com clientes, fornecedores e outras organizações e pessoas para reduzir o tamanho da incerteza.

4

4

2

4

1

Usei pré-acordos para clientes e fornecedores sempre que foi possível.

3

3

2

5

2

Frequência relativa

7

7

4

9

3

Frequência absoluta

23,33%

23,33%

13,33%

30,00%

0,00%

Fonte: Pesquisa de Campo, 2021.

Apresenta-se abaixo o panorama geral das frequências do questionário. Percebe-se que as respostas demonstram, em maior percentagem, a dimensão de Flexibilidade. Com isso, caracteriza um perfil de respondentes abertos à novas oportunidades, o que favorece as vantagens empreendedoras. Sobre tal apontamento, Faia, Rosa e Machado (2014) destacam o posicionamento como base para o reconhecimento das oportunidades, ou seja, os indivíduos buscam comparar os objetos já existentes com um novo objeto, conforme tabela 1, a seguir:

Tabela 1 - Frequência das Dimensões

Fonte: Pesquisa de Campo, 2021.

Em relação às duas Abordagens Causation e Effectuation, na tabela, foi verificada a percepção de que os produtores artesanais, respondentes da pesquisa, indicaram a utilização das duas abordagens na exploração das oportunidades. Na comparação entre as duas abordagens, pode-se considerar que o processo effectual se demonstrou consideravelmente superior em grau de correspondência na influência de como são exploradas as oportunidades. Foi percebida, ainda, uma maior apresentação em campos variados dentro do artesanato, uma vez que é utilizada a autorreflexão. Portanto, as experiências vivenciadas por esses empreendedores no ambiente potencializam suas habilidades profissionais por considerarem o impacto dos mesmos nas ações empreendedoras.

Os elementos cognitivos da iniciativa empreendedora emergente dentro da associação, tais como a forma de reconhecimento de oportunidades e a forma de exploração das mesmas, trazem contribuições para esse movimento de ES como um agente transformador para o desenvolvimento da região, uma vez que, a utilização do método objetivou auxiliar este processo de criação de novos negócios, fazendo com que o empreendedor entenda as necessidades de seu público-alvo, a atribuir e testar novas ideias de forma dinâmica, economizando tempo e outros recursos.

Considerações Finais

Este trabalho investigou os benefícios e as barreiras que a ação empreendedora enfrenta na economia do artesanato. Nesse sentido, os atores salientaram que a ES possui uma grande ferramenta de inclusão no que diz respeito à geração de renda e qualidade de vida, estimulando um ambiente empreendedor por meio do desenvolvimento da comunidade e articulação com o governo local.

Esta pesquisa analisou como o empreendedorismo feminino alinhado à Economia Solidária (ES) pode se desenvolver na região de Nova Iguaçu, mediante a abordagem do Causation e Effectuation. Desta forma, procurou-se compreender como o artesanato feminino foi tradicionalmente desempenhado nas iniciativas solidárias que adentra no espaço empreendedor enquanto empreendimento solidário na localidade.

Por meio da teoria analisada e pelos dados levantados, foi observado que nas últimas décadas o mercado de trabalho tem passado por grandes transformações, e, que as mulheres têm alcançado maior protagonismo e lugar de destaque no empreendedorismo de forma bastante significativa para o desenvolvimento econômico regional, mesmo coexistindo a inércia dos governos locais e a falta de oportunidades em empreender.

Este estudo torna-se importante, pois as informações contidas nele poderão subsidiar o planejamento de outras iniciativas empreendedoras que englobam as estratégias de gestão.

Em resumo, o desenvolvimento mencionado acima evidencia a notoriedade do gênero feminino no cenário econômico e pelo perfil empreendedor que se apresenta. Isso porque, as questões relativas à participação da mulher no mercado de trabalho e a importância do artesanato como ocupação feminina não se esgotam, pois o empreendedorismo feminino contribui na geração de empregos e na expansão da economia.

Percebeu-se que o artesanato no Brasil acabou se tornando refúgio para uma sociedade marginal ao mercado de trabalho formal. Com efeito, é notório perceber o avanço das mulheres às carreiras voltadas à produção manual. Entretanto, é possível considerar que a partir dessa perspectiva de gênero e a naturalização dos papéis, em muitos casos, obrigam as mulheres a empreenderem em atividades que são corriqueiramente femininas, além da desvalorização do trabalho e baixa remuneração.

De forma geral, os resultados da pesquisa mostraram que as lógicas do tipo causation e effectuation não são excludentes, mas coexistem na ação empreendedora, sendo importante salientar que foi a intensidade de cada uma delas que demonstrou diferenças quanto aos fatores que motivam os empreendedores a se inserirem na ES. É importante ressaltar ainda que, mesmo os respondentes que apresentaram baixas lógicas causation e effectuation, as artesãs destacaram fatores motivadores como a autonomia e habilidades manuais para participação nas redes de ES.

Para o campo de estudos do empreendedorismo feminino, os resultados mostraram que, ambas as abordagens podem influenciar na associação de artesanato por meio do plano de negócios e da competitividade.

Por fim, sugerem-se trabalhos futuros por meio de palestras e consultorias que visem melhorar a estrutura das iniciativas empreendedoras que impactam a própria técnica do artesanato de quem o realiza. Além disso, torna-se necessário constituir pesquisas que trazem análises de associações artesanais e empreendedorismo feminino, especialmente em associações locais, para que seja possível gerar contribuições empíricas para a corrente teórica que estude o artesanato e o trabalho feminino alinhado à ES.

Referências

BADINTER, E. (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno. Um amor conquistado: o mito do amor materno, pág. 370-370. Disponível em: file:///C:/Users/ander/Downloads/Badinter,%20Elisabeth%20O%20Mito%20do%20Amor%20Materno.pdf. Acesso em 16 de Out.2022.

BECK, U. (2010). Sociedade de risco. São Paulo: Editora, v. 34, p. 49-53. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5299999/mod_resource/content/1/Ulrich%20Beck%20-%20Sociedade%20de%20risco_%20Rumo%20a%20uma%20Outra%20Modernidade.pdf. Acesso em 24 de out.2022.

CARDOSO, L. S. (2018). Inovação e crowdfunding: um estudo sobre startups. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. Disponível em: https://dspace.mackenzie.br/bitstream/handle/10899/23649/LUCIANO%20SANTOS%20CARDOSO.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 21 de Nov.2021.

CUBERES, D., TEIGNIER, M. (2016). Aggregate effects of gender gaps in the labor market: A quantitative estimate. Journal of Human Capital, v. 10, n. 1, p. 1-32. DOI: 10.1086/683847

DE FIGUEIREDO, M. D., MELO, A. N., MATOS, F. R. N., e MACHADO, D. Q. (2015). Empreendedorismo feminino no artesanato: uma análise crítica do caso das rendeiras dos Morros da Mariana, Piauí. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, 14(2),110-123. DOI: 10.21529/RECADM.2015010.

DE MUNCK, B. (2019). Artesãos como trabalhadores do conhecimento: artesanato e criatividade em uma perspectiva de longo prazo. Geoforum , ٩٩ , ٢٢٧-٢٣٧. DOI: 10.1016 /j.geoforum.2018.05.025.

DE OLIVEIRA SILVA, D., e de ALMEIDA SANTOS, M. (2018). Um panorama dos empreendimentos econômicos solidários formais do ramo de artesanato do estado da Bahia. Revista de Gestão e Organizações Cooperativas, 5(10), 153-174. DOI: 10.5902 / 2359043230377.

FAIA, V.S., ROSA, M. A. G. e MACHADO, H. P. V. (2014). Alerta empreendedor e as abordagens causation e effectuation sobre empreendedorismo. Revista de Administração Contemporânea, 18 (2), 196-216. DOI: 10.1590/S1415-65552014000200006.

FETSCH, E., JACHSON, C., e WIENS, J. (2015). Mulheres empreendedoras são a chave para acelerar o crescimento. Kauffman Foundation. Disponível em: https://www.kauffman.org/resources/entrepreneurship-policy-digest/women entrepreneurs-are-key-to-accelerating-growth/. Acesso em 05 de Dez.2021.

FIDELIS, A. C. F., NAVAIA, E. C., TISOTTI, P. B., e MOREIRA, A. C. (2017). Empreendedorismo na lógica do Effecuation versus Causation: um levantamento bibliográfico. In XVII Mostra de Iniciação Científica, Pós-graduação, Pesquisa e Extensão. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/mostraucsppga/xviimostrappga/paper/viewFile/5562/1819. Acesso em 06 de Dez. 2021.

FISHER, G. (2012). Effectuation, causation, and bricolage: A behavioral comparison of emerging theories in entrepreneurship research. Entrepreneurship theory and practice, v. 36, n. 5, p. 1019-1051. DOI: 10.1111/j.1540-6520.2012.00537.

Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. Editora Atlas SA.

HABLICH, F., BERMÚDEZ, C., ESPINOZA, E. (2018). Determinantes de la actividad emprendedora en la mujer de hispanoamérica. Revista Universidad y Sociedad, v. 10, n. 5, p. 106-112. Disponível em: http://scielo.sld.cu/pdf/rus/v10n5/2218-3620-rus-10-05-106.pdf. Acesso em: 19 de Dez.2021.

HARMS, R., SCHIELE, H. (2012). Antecedents and consequences of effectuation and causation in the international new venture creation process. Journal of international entrepreneurship, v. 10, n. 2, p. 95-116. DOI: 10.1007/s10843-012-0089-2.

JUNIOR, G. S., e de CARVALHO, A. A. (2021). O artesanato doméstico no cotidiano da mulher. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento, 10(4).. DOI:10.33448/rsd-v10i4.14277

LOPES, J. R., TOTARO, P. (2016). The learning of cultural diversity and the patrimonialization of biodiversity. Ciências Sociais Unisinos, v. 52, n. 2, p. 196-204. DOI: 10.4013/csu.2016.52.2.06.

LYSGARD, H.K (2016). A política cultural ‘realmente existente’ e as estratégias baseadas na cultura de lugares rurais e pequenas cidades. Jornal de Estudos Rurais , 44 , 1-11. DOI: 10.1016/j.jrurstud.2015.12.014.

MAINE, E.,SOH, PH.; DOS SANTOS, N. (2015). The role of entrepreneurial decision-making in opportunity creation and recognition. Technovation, v. 39, p. 53-72. DOI:10.1016/j.technovation.2014.02.007.

MAINE, E., SOH, PH, e Dos Santos, N. (2015). O papel da tomada de decisão empreendedora na criação e reconhecimento de oportunidades. Technovation , 39 , 53-72. MARQUESAN, F. F. S., FIGUEIREDO, M. D. (2014).. De artesão a empreendedor: a ressignificação do trabalho artesanal como estratégia para a reprodução de relações desiguais de poder. RAM. Revista de Administração Mackenzie, v. 15, p. 76-97. DOI: 10.1590/1678-69712014/administracao.v15n6p76-97.  

MINAYO, M. C. S., DESLANDES, S. F., CRUZ NETO, O. e GOMES, R. (2001). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. In Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes.

RODRIGUES, A. S. M., GASPAR, L. C. S., RODRIGUES, D. R., e DA GAMA AFONSO , H. C. A. (2021). Fatores Críticos Relacionados ao Empreendedorismo Feminino. Espacio Abierto, 30(1), 75-96. DOI: 10.5281/zenodo.4683758.

SARASVATHY, S. D. (2001) Toward causation and effectuation: A theoritical shift from inevitability to economic entrepreneurial contingency. The Academy of Management Review, v. 26, n. 2, p. 243-263. DOI: 10.5465/amr.2001.4378020.

SARASVATHY, S. D. DEW, N. (2005) New market creation through transformation. Journal of evolutionary economics, v. 15, n. 5, p. 533-565. DOI: 10.1007/s00191-005-0264-x.

SERENO, L. F., KELLER, P. F. (2017). Artesãs e cooperativas: a construção social do interesse na ação cooperada na economia do artesanato no Maranhão. Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais, n. 22, p. 11-32. Disponível em: Artesãs e cooperativas: a construção social do interesse na ação cooperada na economia do artesanato no Maranhão | Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais (unesp.br). Acesso em: 19 de out.2022.

SILVA, M. (2014). Abordagem sobre gênero e trabalho artesanal em histórias de vida de mulheres. Encontro da Anped Sul, 9. (2), 243-263. DOI: 10.1590/0104-4060.36810.

SINGER, P. (2008). Economia solidária. Estudos Avançados, 22(62), 289-314. DOI: 10.1590/S0103-40142008000100020.

VALE, G. M. V., SERAFIM, A. C. F., e TEODÓSIO, A. D. S. D. S. (2011). Gênero, imersão e empreendedorismo: sexo frágil, laços fortes? Revista de Administração Contemporânea, 15, 631-649. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/840/84018975005.pd

Documentos oficiais e institucionais

FBES, Fórum Brasileiro de Economia Solidária (2008). Movimento de Economia Solidária no Brasil. Disponível em: https://fbes.org.br/2008/07/30/movimento-de-es-no-pais/. Acesso em 20 de Dez.2021.

GEM, Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil (2019). Relatório Executivo. Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade. Sebrae, 2019. Disponível em: https://ibqp.org.br/PDF%20GEM/Relat%c3%b3rio%20Executivo%20Empreendedorismo%20no%20Brasil%202019.pdf. Acesso em: 27 de nov. 2021.

PNI, Prefeitura de Nova Iguaçu (2020). Programa Municipal de Artesanato da Prefeitura de Nova Iguaçu cadastra mais de 450 artesãos. Disponível em https://www.novaiguacu.rj.gov.br/2020/02/14/programa-municipal-de-artesanato-da-prefeitura-de-nova-iguacu-cadastra-mais-de-450-artesaos/. Acesso em 07 de Dez.2021.

REM, Rede de Mulher Empreendedora (2019). Empreendedoras e seus negócios. Disponível em: https://rme.net.br/wp-content/uploads/2019/06/1519750080Empreendedoras_e_seus_negcios.pdf. Acesso em 06 de Dez. 2021.


1

2 Empreendedorismo em espaços acadêmicos: Avaliação do Alerta Empreendedor e das Abordagens Causation e Effectuation em uma Universidade Brasileira. Disponível em: https://ojs.eselx.ipl.pt/index.php/invep/article/view/219/349. Acesso em: 17 de Out.2022. Effectuation e Causation: um estudo sobre o processo decisório empreendedor em redes de micros e pequenos supermercados. Disponível em: https://www.effectuation.org/wp-content/uploads/2017/06/tese-vers%C3%A3o-final-1.pdf. Acesso em: 17 de Out.2022.